Um dos métodos mais populares e polêmicos é a bioplastia, que utiliza um produto derivado do plástico - o polimetilmetacrilato - mais conhecido como PMMA.
O preenchimento é feito rapidamente, sem internação. Com uma seringa, o médico injeta a substância para amenizar rugas ou aumentar o bumbum, por exemplo.
Mas estudos recentes mostram que usar este produto pode ser arriscado.
O alerta foi dado pela médica e pesquisadora Simone Rosa, depois de uma pesquisa pela Universidade de Brasília utilizando ratos de laboratório, na Universidade de Brasília.
No teste, o PMMA foi injetado na orelha dos camundongos. Algum tempo depois, rejeitada pelo organismo, a substância entrou na corrente sanguínea e atingiu outras partes do corpo.
“Os camundongos vieram a apresentar a substância no fígado, no rim, trazendo mal à saúde”, explica Simone.
O cirurgião plástico Antonio Carlos Abramo já havia constatado a rejeição do PMMA. Ele tratou de pacientes que usaram a substância em outras clínicas e tiveram problemas.
“Eu já recebi pacientes em fase inflamatória, com formação de pústula na pele, deformidade do tecido que lamentavelmente evoluíram para sua retirada cirúrgica”, explicou o doutor Abramo.
Muitos pacientes descobriram isso na pior maneira possível.
A consultora Marli Ferreira ficou com seqüelas depois de fazer a bioplastia para aumentar os lábios.
“O médico me informou que não doía quase nada e que dentro de dois, três dias, já dava pra sair, pra trabalhar, enfim, levar uma vida normal. E não foi o que aconteceu. Foi um sofrimento muito grande, fiquei monstruosa. Eu espera ficar mais ou menos parecida com a Angelina Jolie, com os lábios dela, claro. E hoje me sinto como se fosse um Simpson”, compara Marli.
Há quatro anos a aposentada Iveta Maria Rebello da Costa procurou um médico em Niterói.
“Eram simplesmente marcas de expressão carregada, na testa, pés de galinha”, conta ela.
À conselho da clínica resolveu fazer aplicações de PMMA na testa. O resultado foi trágico.
“Quando deu a agulhada, na hora eu senti mal-estar, ânsia de vômito, fiquei passando mal”, lembra a aposentada.
A clínica onde ela fez a aplicação não estava preparada para atendê-la e Iveta foi encaminhada para um hospital.
“Taparam meu olho esquerdo e eu não via nada”, conta ela.
O neurologista Marcus Tulius da Silva, que cuidou de Iveta no hospital, ficou espantado.
“O que me chamou atenção foi o quadro muito súbito da perda de visão”, comenta o médico.
O PMMA teria caído da corrente sanguínea e atingido o olho e o nariz de Iveta. O nariz ficou marcado.
“Para ficar bonita, perdi o olho”, lamenta.
Hoje, ela usa uma prótese no olho direito e toma anti-depressivos.
“Eu não pensei, jamais, que causaria isso, que iria ficar cega” diz Iveta.
O médico Sidnei Costa Rosa, que fez a aplicação em Iveta, foi procurado, mas ele não quis gravar entrevista. Quem falou foi o advogado Lymark Kamaroff.
“Não existe a certeza de que a cegueira, provocada por um glaucoma, foi ocasionado pela substância. Não existe a certeza. O glaucoma pode desenvolver mediante uma situação de estresse”, defende ele.
O PMMA é liberado pela Anvisa, órgão do governo que regulamenta o uso dos medicamentos, mas com restrições.
“O PMMA é um produto definitivo que permanece para sempre no organismo. Por isso seu uso precisa ser muito bem indicado, em pequenas quantidades e em regiões bem específicas”, explica o dermatologista Jardis Volpe.
“Os pacientes que já utilizaram não devem entrar em pânico, porque em alguns não se manifesta nenhum tipo de reação. Só que devem fazer um acompanhamento periódico com o médico que fez a aplicação”, alerta a médica Simone.