15 de julho de 2014

Uma amizade em som


Violão

No início, os exercícios são completamente entediantes. Você não consegue segurar uma pestana nem se sua vida dependesse disso. Você toca Do-ré-mi-fá martelando nas teclas brancas com um único dedo indicador. Você sofre com bolhas nos dedos e falta de paciência, mas as pessoas que moram contigo (e os vizinhos) sofrem ainda mais enquanto você desvenda a bateria ou faz sons de gatos morrendo no violino.
A primeira recompensa é o momento em que você consegue tocar uma música da qual gosta. A partir desse momento, você está condenado a uma vida de vício. É o início de uma grande amizade.
O talento musical natural é uma coisa que surge pra poucos no nascimento, mas também, são poucos que resolvem transformar essa relação com o instrumento em trabalho. E quanto mais você toca, mais você entende o que você escuta – você começa a entender mais de ritmo, de compasso (não do tipo que você pega).
Aprender um instrumento musical é um investimento. Claro que muito se diz sobre a alegria de tocar seu violão com uma roda de amigos, ou fazer uma serenata para alguém, ou até mesmo montar uma banda de garagem (ou de sala, de quarto, de porão), mas em grande parte do tempo, a alegria do instrumento musical é solitária.
Impossível não partir pra primeira pessoa e fazer um relato pessoal. Toco guitarra, aprendi aos trancos e barrancos, com apenas dois meses de aula e depois muito esforço de auto-didata. Hoje, qualquer intervalo de tédio me leva a pegar a guitarra nas mãos e ficar dedilhando, improvisando, brincando, ou tocando seja lá qual for a música que estiver na minha cabeça da época. Dia estressante? É só descarregar tudo com algo bem rápido e distorcido.
Quando eu digo que o que se forma é uma espécie de amizade eu não estou brincando – algumas pessoas dão até mesmo nomes para suas guitarras, pianos, baterias ou baixos, como a famosa guitarra de B.B.King, Lucille.
Aprender sozinho é um desafio, mas com tantos tutoriais online e vídeos, é possível. E a sensação de realização? Nada bate o momento em que você está ouvindo AQUELA música, mas quem está tocando não é AQUELA banda, e sim, você!

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