11 de janeiro de 2014

Vamos brincar de gangorra meu amor?



Quando um está mal, o outro deve estar bem.

Quando um está irritado, o outro deve ser paciente.

Quando um está cansado, o outro deve encontrar disposição.

Quando um adoece, o outro deve mostrar saúde.

Quando um se envaidece de razão, o outro deve ser humilde no
cuidado.

No casal, as fraquezas não podem convergir. Não podem ocorrer
simultaneamente.

Se vê que sua parceira explodiu, escolha um momento distinto
para desabafar e reclamar. Recue de sua catarse. Deixe para o
dia seguinte. Ela nem irá ouvi-lo no acesso de cólera.

Quando os dois decidem ser a parte mais fraca do relacionamento, os laços sucumbem.

Não podem ocupar o mesmo papel, o mesmo script. Só há vaga para um protagonista em cada crise. Alguém terá que ser coadjuvante.

Dois vilões no mesmo filme geram divórcio.

A alternância é o segredo da convivência. Mudar de lugar sempre, analisar quem mais precisa e ceder se for necessário.

O que traz estabilidade é a gangorra: quando a mulher cai, o
homem estende o braço, quando o homem vacila, a mulher acode.

A separação acontece quando duas chagas conversam procurando
mostrar qual é a mais funda. É quando duas feridas travam uma
guerra buscando sangrar mais, e nenhum dos lados estanca a
própria carência.

O sofrimento acentua o orgulho, a dor agrava a cegueira, a
ansiedade de resolver logo a discordância apenas abre a porta
para o fim.

É uma disputa do desespero, e o casal se afoga nas mágoas. Não
haverá sequer um salva-vidas acordado.

Ainda que sobre paixão, ainda que reste confiança, nada segura
o momento em que os dois coincidem em enlouquecer. A loucura
exige troca de plantão.

O casal é capaz de destruir uma história linda e promissora por
uma noite de fúria.

A esposa e o marido se transformam em crianças, e crianças
abandonadas em casa berrando e com medo. Tentarão gritar alto
para chamar os vizinhos e denunciar os maus-tratos. E vão se
indispor e se ofender tanto, e vão se provocar e se agredir tanto, que depois é difícil cicatrizar.

Um tem que ser adulto na hora do pânico. Um tem que ser responsável. Um tem que ser forte o suficiente para preservar as fraquezas do amor.

Fabricio Carpinejar

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