7 de março de 2012

Mortes por câncer diminuem, mas a incidência aumenta

Autora: Roxanne Nelson
Publicado em 05/01/2012



A boa notícia é que as taxas de mortalidade por câncer diminuíram tanto para homens quanto para mulheres. A notícia não tão boa é que as taxas de incidência de alguns tipos de câncer parecem estar aumentando.

De acordo com um relatório publicado pela Sociedade Americana do Câncer e publicado online em 04 de janeiro em 2 partes em CA: A Cancer Journal for Clinicians, as taxas de mortalidade específica por câncer de 1999 a 2008 diminuíram tanto em homens quanto em mulheres de todos os grupos raciais/étnicos, com exceção de índios americanos/nativos do Alasca, para os quais as taxas mantiveram-se estáveis.

Uma parte do relatório observa que a redução global nas taxas de mortes por câncer desde 1990 em homens e 1991 em mulheres preveniu cerca de 1.024.400 mortes por câncer.

Digno de nota, a queda mais rápida na taxa de mortalidade anual foi observada entre os negros (2,4%) e hispânicos (2,3%).

As taxas de mortalidade continuam a diminuir para todos os 4 principais tipos de câncer (pulmão, cólon, mama e próstata). O câncer de pulmão isoladamente respondeu por quase 40% do declínio total em homens e o câncer de mama respondeu por 34% do declínio total em mulheres.

Para todos os quatro principais tipos de câncer a incidência diminuiu, com exceção do câncer de mama em mulheres, que se manteve relativamente estável de 2005 a 2008, após recuar 2% por ano de 1999 a 2005.

As taxas de mortalidade refletem mudanças na incidência, assim como os progressos e avanços no tratamento e diagnóstico, explicou Elizabeth Ward, PhD, vice-presidente nacional de pesquisa intramural para a Sociedade Americana do Câncer.

As tendências de incidência são mais difíceis de interpretar, ela disse ao Medscape Medical News. Ela observou, por exemplo, que as taxas de incidência do câncer de mama têm flutuado. O acentuado declínio de quase 7% entre 2002 e 2003 foi atribuído à redução do uso de terapia de reposição hormonal após a publicação dos resultados do estudo Women's Health Initiative em 2002.

Além disso, a introdução de programas de rastreio pode ter levado a um aumento da incidência, disse a Dra. Ward. “As taxas de incidência se elevaram para o câncer de próstata quando o teste de PSA foi introduzido, por exemplo. Mas as taxas de mortalidade estão caindo para todos os quatro tipos principais, mesmo se não se relacionando com as tendências de incidência."

Taxas crescentes para sete cânceres

Infelizmente, as taxas de incidência para outros cânceres têm aumentado. Em outra parte do relatório, os pesquisadores examinaram tendências nas taxas de incidência de 1999 a 2008 para 7 tipos de câncer.

Durante a última década, as taxas de incidência de câncer de pâncreas, fígado, tireoide, rim e do melanoma aumentaram. Além disso, houve um aumento de adenocarcinoma de esôfago e em certos subtipos de câncer orofaríngeo que estão associados à infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Diferenças raciais/étnicas foram observadas para alguns, mas não todos os cânceres com taxas de incidência crescente.

Por exemplo, a incidência aumentada de câncer orofaríngeo relacionado ao papilomavírus humano e do melanoma foram observados somente entre os brancos. Taxas aumentadas de adenocarcinoma de esôfago foram observadas entre os brancos e os homens hispânicos. Taxas de hepatocarcinoma aumentaram em homens brancos, negros e hispânicos e em mulheres negras. Por outro lado, as incidências crescentes de câncer de tireoide e rim foram observadas em todos os grupos raciais/étnicas, exceto os homens nativos americanos e nativos do Alasca.

A Sociedade Americana do Câncer descobriu que as pessoas entre 55 e 64 anos de idade tiveram o maior aumento na incidência de câncer hepático e de orofaringe relacionado ao papiloma vírus humano. Indivíduos com 65 anos ou mais tiveram um aumento na taxa de incidência de melanoma. Para homens com carcinoma de orofaringe relacionados ao papilomavírus e as mulheres com câncer de tireoide, as taxas de incidência crescentes foram maiores entre as pessoas entre 55 e 64 anos de idade.

As razões para essas tendências de aumento não estão totalmente claras, disse a Dra. Ward, acrescentando que pode haver uma série de razões subjacentes. A incidência aumentada de carcinoma de orofaringe relacionado com o papilomavírus, por exemplo, pode estar associado a mudanças nos comportamentos sexuais que aumentam o risco de exposição ao HPV.

“O adenocarcinoma de esôfago pode estar relacionado às taxas crescentes de obesidade e a uma prevalência aumentada de doença do refluxo gastroesofágico”, disse ela. “Isto, por sua vez, pode levar a “esôfago de Barrett.”

A maior incidência de câncer de tireoide e de rim é muito menos clara. “Há suspeitas de que parte da razão é um aumento na detecção, à medida que nossa tecnologia melhora”, explicou a Dra. Ward. “Isso pode ser parte da explicação, ou pode ser realmente um aumento real e nós simplesmente ainda não sabemos as causas reais.”

“O câncer de tireoide é realmente um quebra-cabeça”, disse ela. “Está aumentando rapidamente e já estão sendo conduzidas pesquisas para determinar as razões deste aumento. Para outros tipos de câncer, podemos ter um melhor controle sobre as razões pelas quais estão aumentando e há algumas medidas de saúde pública que podem ser tomadas.”

Variações entre grupos étnicos/raciais

Houve um total de 565.469 mortes por câncer registrado nos Estados Unidos em 2008, que é o ano mais recente para os quais dados estão disponíveis. O câncer foi responsável por 23% de todas as mortes registradas nos Estados Unidos, o que o torna a segunda maior causa de morte, atrás das doenças cardiovasculares. De 2007 a 2008, houve um declínio na taxa de mortalidade por câncer padronizada por idade de 1,5%, de 178,4 para 175,8 por 100.000.

Existem variações regionais/geográficas consideráveis na incidência e mortalidade por câncer, observa o relatório. O câncer de pulmão, por exemplo, teve a maior variação nas taxas, refletindo a prevalência do tabagismo. Em Kentucky, que tem a maior prevalência de tabagismo, o câncer de pulmão é quase 4 vezes mais frequente que em Utah, estado com a menor prevalência de tabagismo.

As taxas de incidência e de mortalidade do câncer continuam a mostrar uma variação considerável de acordo com o grupo racial e étnico. Como já foi publicado pelo Medscape Medical News, disparidades raciais e étnicas continuam a existir no tratamento do câncer, mesmo após fatores como seguro e status socioeconômico serem controlados, e um número desproporcional de mortes relacionadas ao câncer ocorre em minorias raciais/étnicas.

O que mais chama atenção é o fato de que para todos os tipos de câncer combinados, homens negros têm uma incidência 15% maior e uma taxa de mortalidade 33% maior do que os homens brancos nos Estados Unidos. Mulheres negras têm uma incidência 6% menor que as mulheres brancas, mas uma taxa de mortalidade 16% maior.

Nos Estados Unidos, as taxas de incidência e morte são consistentemente maiores em negros do que em brancos, com exceção das mulheres com câncer de mama (incidência) e de pulmão (incidência e mortalidade), e de homens e mulheres com carcinoma renal (mortalidade). No entanto, tanto a incidência quanto as taxas de mortalidade são mais baixas em outros grupos étnicos/raciais que em brancos e negros nos Estados Unidos para todos os subtipos de câncer e para os 4 tipos mais comuns.

A exceção é a incidência e mortalidade de cânceres associados a agentes infecciosos, como estômago, fígado e colo do útero, que tendem a serem maiores nos grupos minoritários que em brancos. Como exemplo, as taxas de incidência e de mortalidade são duas vezes maiores em norte-americanos de descendência asiática e insular do Pacífico em relação aos brancos, o que reflete um maior grau de infecção crônica pelo Helicobacter pylori e vírus das hepatites B e C.

Projeções para 2012

Estas estatísticas atuais fornecem uma mensagem um pouco confusa, disse Richard Schilsky, MD, ex-presidente da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e atual editor executivo do site da ASCO, CancerProgress.Net. “A grande notícia é que as taxas de mortalidade por câncer continuam a diminuir e têm sido assim por algum tempo”, ele disse ao Medscape Medical News. “Isto é verdadeiro para o câncer em geral, e especialmente para os cânceres mais comuns.”

No entanto, está claro que outros tipos de câncer estão aumentando, disse o Dr. Schilsky, que é professor de medicina, chefe de hematologia/oncologia e vice-diretor do Comprehensive Cancer Center da Universidade de Chicago, Illinois. “Nós também não observamos esses declínios em alguns segmentos da população, especialmente os afro-americanos."

Identificar o aumento da incidência de alguns cânceres pode ser útil. “Pelo menos em alguns casos, pode haver uma explicação subjacente com a qual podemos lidar e esperamos resolver”, disse ele.

O Dr. Schilsky acrescentou que as melhores notícias são que mais de 1 milhão de mortes atribuíveis ao câncer foram evitadas na última década. “Isso é muito encorajador.”

Para 2012, a Sociedade Americana de Câncer estima que haja 1,6 milhões de novos casos de câncer invasivo e 577.190 mortes relacionadas ao câncer, o que corresponde a mais de 1.500 mortes por dia.

Para os homens, os cânceres de próstata, pulmão e brônquios e cólon e reto serão os tipos mais comuns diagnosticados e serão responsáveis por aproximadamente 50% de todos os novos diagnósticos. O câncer de próstata isoladamente será responsável por 29% (241.740) dos casos incidentes.

Para as mulheres, os cânceres de mama, pulmão e brônquios e cólon e reto serão o 3 tipos de câncer mais comumente diagnosticados e também serão responsáveis por aproximadamente metade de todos os novos casos. Espera-se que o câncer de mama isoladamente explique 29% (226.870) de todos os casos diagnosticados.

“A importância das tendências é que elas nos apontam a direção certa”, disse a Dra. Ward. “Se um tipo de câncer está aumentando, é importante saber as causas. Isso vai encorajar mais estudos para investigar esses achados.”


CA Cancer J Clin. Published online January 4, 2012.

Roxanne Nelson is a staff journalist for Medscape Oncology.

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