30 de novembro de 2012

Ser sozinho (a)

Amei esse texto!

"Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste século. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor, de casamento.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo está desaparecendo. O amor romântico parte do conceito de que somos uma fração e precisamos encontrar outra metade para nos sentirmos completos.
A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Não é ter alguém pra dividir e sim para somar.
Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com todas essas mudanças no mundo, passa exigir mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas ainda se sentem fração, mas são inteiras.
O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem que ir se reciclando para se adaptar ao mundo que ele próprio criou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo.
O egoísmo não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. Totalmente diferente de individualidade.
A nova forma de amor, ou mais amor (acredito), tem uma nova feição e significado. Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E há sim muito romantismo nisso. Talvez um real romantismo.
E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.
Acredito que quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. Nos ensina a viver com mais amor. 
As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.
Relações de dominação e de depedências exageradas são coisas do século passado. Ninguém pertence a ninguém. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.
Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo a nosso gosto.
Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontrados dentro dele mesmo, e não a partir do outro.
Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável.
Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.
Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo."

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